sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O dia em que me vi

 

Nunca disse uma palavra de amor

enquanto odiei o meu corpo

como dar graças ao Criador

odiando sua imagem e semelhança

dia queme vi

Como buscar a mão de um irmão

se o negro de minha alma e cor

brilhavam luzidio na sua pele

como espelho de minha negra imagem

 

Anjos e deuses eram brancos

belos, lindos e cultos

eu ser descaído mendigava

um olhar, um afago, um abraço

 

A mão que me tocasse

por mais branca que fosse

suja , imunda, desprezível se tornava

pois eu mesmo me odiava

 

Um dia rasgando meu corpo e alma

de tudo que eu sempre ouvira

surgiu o homem negro livre

da prisão onde existira

O reflexo, criado por vozes opressoras

em mil partes se quebrou

negro, burro, imundo, sem valor

ficaram cacos quebrados

 

O homem negro de punho levantado

olhou demoradamente seu irmão

não de pele mas de fé

e pela primeira vez, amou

 

Livro “ Luta pela Igualdade”

Hugo Ferreira Zambukaki

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Durante a Ditadura Militar quando éramos oposição

 

“- Sim, estive lá eu lutei!”
(Convocatória para o lançamento de fundação da FRENAPO 16/6/1980)
Hoje 9 de janeiro de 2015 completa 62 anos o irmão e camarada Benedito Cintra, vindo de movimentos de base da periferia nos anos de 1973 e 74 no Movimento Contra a Carestia. Elegeu-se vereador em 1976 com 23 anos pelo MDB partido de oposição à Ditadura. Na época o PC do B era um partido clandestino. Cintra participava do diretório do MDB, da Freguesia do Ó, eu no Diretório de Santa Efigênia, eu não participava de “partidos organizados” (como se falava na época) era da chamada esquerda independente. A eleição controlada pela Ditadura os prefeitos eram nomeados pelo Governador , dos candidatos à vereador apareciam pequenas fotos e um mínimo currículo. Votei na foto 3/4 do Cintra, sem conhecê-lo pessoalmente, mas por sua história de luta e militância.

Conselho Posse 2

Posse do Conselho de Desenvolvimento e Participação da  Comunidade Negra de São Paulo no governo Franco Montoro

Quando em 1980 Paulo Maluf era o então governador eleito indiretamente iniciou a proposta da mudança da Capital de São Paulo para o interior do estado, os representantes (deputados e vereadores de SP) da então chamada “comunidade negros” eleitos pelo MDB que fora extinto em 1979 com o fim do bipartidarismo, apoiaram Maluf e entraram para o PDS sigla que continuava a trajetória da ARENA, nós antigos militantes do MDB tentando se organizar nos vários partidos de oposição que se delineavam, formamos uma Frente pluripartidária de oposição dos militantes negros contra os vereadores e deputados adesistas de Paulo Maluf.
O único companheiro que tinha mandato na cidade de São Paulo em 1980 era o camarada Benedito Cintra, as reuniões que se iniciaram num escritório de advocacia da Rua Líbero Badaró 92, transformou-se num quilombo de resistência no Gabinete do então vereador Benedito Cintra do PMDB.
Com inúmeros companheiros, como o ex-deputado e prefeito cassado de Santos Esmeraldo Tarquinio, Oscarlino Marçal, Abdias do Nascimento vindo do Rio de Janeiro, professor Eduardo de Oliveira o vereador João Bosco da Silva de São José dos Campos, e tantos companheiros  que não consigo citar todos de memória, mas alguns não posso esquecer como Ronaldo Simões, Mário Assunção, Nivaldo Santana,  professor Hélio Santos, Milton Santos, Alberto Alves da Silva Filho (Betinho da Nenê) Antonio Carlos Arruda , os irmãos Celso e Wilson Pudente, Valdir e Jurandir Nogueira criamos a FRENAPO (Frente Negra para Ação Política de Oposição).
Viriamos a apoiar a candidatura de Franco Montoro em 1982 à Governador na primeira eleição direta, mas isso já é outra história…
Uma simples poesia chamava para a convocação no Plenário da Assembléia Legislativa.

FRENAPO

“Um dia quero cantar teu nome

com a força de outros nomes

simbólicos peso na minha vida

com a ação de luta e respeito

forjados nas bigornas diárias da vida

e quando perguntarem: -Conhece?

Apenas simplesmente direi:

- Sim, estive lá eu lutei!”

Hugo Ferreira 16/6/1980