quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Documentário “Negro Lá, Negro Cá”

Documentário cearense sobre racismo é selecionado para festival de cinema em Portugal

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Andy Monroy, um dos entrevistados para o documentário. Foto: Divulgação

O documentário “Negro Lá, Negro Cá”, do jovem cineasta Eduardo Cunha, não foi só um Trabalho de Conclusão de Curso: Sergipe, Rio de Janeiro e até Portugal tiveram ou terão a exibição do filme em três festivais importantes do gênero. O trabalho traz reflexões do racismo sofrido por imigrantes africanos residentes em Fortaleza, no Ceará.

Em entrevista concedida para o portal da Rádio Verdes Mares, Eduardo conta que a ideia veio por meio de conversas com um amigo de Cabo Verde, Andy Monroy. “A gente sempre conversou sobre o racismo e outras questões referentes à adaptação dele e de outros estudantes aqui em Fortaleza”, explica.

O filme foi selecionado para três festivais até agora. O primeiro foi para o XV Encontros de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal. O filme foi exibido em maio deste ano. Em seguida, foi selecionado para o 5º SERCINE – Festival Sergipe de Audiovisual e será exibido em outubro de 2015. O mais recente foi o Visões Periféricas, que acontece em agosto, no Rio de Janeiro. Além desses festivais, Eduardo pretende receber novas seleções de outros eventos de cinema nos quais inscreveu o documentário.

Confira o teaser de “Negro Lá, Negro Cá”:

Inicialmente, Eduardo, que é recém-formado em Publicidade e Propaganda pela Unifor, quis acompanhar o cotidiano de alguns imigrantes e fotografá-los, mas “por sugestão do meu professor Wilton Martins, que é fotógrafo e sociólogo, resolvi fazer um documentário. Tratar do racismo num produto audiovisual traria mais possibilidades de fazer as pessoas se questionarem sobre o assunto”, enfatiza.

No documentário, são entrevistados os africanos Andy Monroy (Cabo Verde), Alfa Umaro Bari (Guiné-Bissau), Cornelius Ezeokeke (Nigéria) e Manuel Casqueiro (Guiné-Bissau). “A história de vida de cada um é muito rica e isso se reflete na fala deles. O filme busca trazer inquietação em quem assiste e tenho percebido que o ‘Negro Lá, Negro Cá’ tem cumprido esse papel”, revela Eduardo, entusiasmado.

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O diretor Eduardo Cunha. Foto: Thaís Mesquita

Para ele, a repercussão do filme pode fazer com que as pessoas se aproximem do problema que é o racismo e do quanto isso pode ser agressivo. “Gosto de fazer a comparação do filme com uma cadeira, ou um objeto qualquer, em chamas. De longe, podemos nos dar conta de que aquele fogo pode ser prejudicial para nós, fisicamente. Algumas pessoas podem não perceber e precisar chegar mais perto para sentir o calor do fogo e, a partir daí, entender o risco que ele pode representar. Outras pessoas, mesmo estando perto, podem não se dar conta e só perceberem a agressividade do fogo quando se queimarem. Aí elas estarão tendo a experiência mais intensa possível”.

Eduardo Cunha faz parte do 202b, uma equipe cearense dedicada a desenvolver um trabalho que transita em linguagens como vídeo, fotografia, pintura e desenho.

Por: verdinha às 17:34 de 07/08/2015 – Verdes Mares

Documentário “Negro Lá, Negro Cá”

Documentário cearense sobre racismo é selecionado para festival de cinema em Portugal

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Andy Monroy, um dos entrevistados para o documentário. Foto: Divulgação

O documentário “Negro Lá, Negro Cá”, do jovem cineasta Eduardo Cunha, não foi só um Trabalho de Conclusão de Curso: Sergipe, Rio de Janeiro e até Portugal tiveram ou terão a exibição do filme em três festivais importantes do gênero. O trabalho traz reflexões do racismo sofrido por imigrantes africanos residentes em Fortaleza, no Ceará.

Em entrevista concedida para o portal da Rádio Verdes Mares, Eduardo conta que a ideia veio por meio de conversas com um amigo de Cabo Verde, Andy Monroy. “A gente sempre conversou sobre o racismo e outras questões referentes à adaptação dele e de outros estudantes aqui em Fortaleza”, explica.

O filme foi selecionado para três festivais até agora. O primeiro foi para o XV Encontros de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal. O filme foi exibido em maio deste ano. Em seguida, foi selecionado para o 5º SERCINE – Festival Sergipe de Audiovisual e será exibido em outubro de 2015. O mais recente foi o Visões Periféricas, que acontece em agosto, no Rio de Janeiro. Além desses festivais, Eduardo pretende receber novas seleções de outros eventos de cinema nos quais inscreveu o documentário.

Confira o teaser de “Negro Lá, Negro Cá”:

Inicialmente, Eduardo, que é recém-formado em Publicidade e Propaganda pela Unifor, quis acompanhar o cotidiano de alguns imigrantes e fotografá-los, mas “por sugestão do meu professor Wilton Martins, que é fotógrafo e sociólogo, resolvi fazer um documentário. Tratar do racismo num produto audiovisual traria mais possibilidades de fazer as pessoas se questionarem sobre o assunto”, enfatiza.

No documentário, são entrevistados os africanos Andy Monroy (Cabo Verde), Alfa Umaro Bari (Guiné-Bissau), Cornelius Ezeokeke (Nigéria) e Manuel Casqueiro (Guiné-Bissau). “A história de vida de cada um é muito rica e isso se reflete na fala deles. O filme busca trazer inquietação em quem assiste e tenho percebido que o ‘Negro Lá, Negro Cá’ tem cumprido esse papel”, revela Eduardo, entusiasmado.

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O diretor Eduardo Cunha. Foto: Thaís Mesquita

Para ele, a repercussão do filme pode fazer com que as pessoas se aproximem do problema que é o racismo e do quanto isso pode ser agressivo. “Gosto de fazer a comparação do filme com uma cadeira, ou um objeto qualquer, em chamas. De longe, podemos nos dar conta de que aquele fogo pode ser prejudicial para nós, fisicamente. Algumas pessoas podem não perceber e precisar chegar mais perto para sentir o calor do fogo e, a partir daí, entender o risco que ele pode representar. Outras pessoas, mesmo estando perto, podem não se dar conta e só perceberem a agressividade do fogo quando se queimarem. Aí elas estarão tendo a experiência mais intensa possível”.

Eduardo Cunha faz parte do 202b, uma equipe cearense dedicada a desenvolver um trabalho que transita em linguagens como vídeo, fotografia, pintura e desenho.

Por: verdinha às 17:34 de 07/08/2015 – Verdes Mares

sábado, 5 de dezembro de 2015

Primeira vez que vi Marília Pera

Histórias do Teatro Casarão

Hoje logo dia 05 de dezembro de 2015, acordo com a televisão anunciando a morte da atriz Marilia Pera. Como uma velha escrivaninha de várias gavetas, que você encontra velhos papéis esquecidos, lembrei da primeira vez que vi Marília Pera.

Marilia Roda Viva 2

Marília Pera na peça Roda Viva de Chico Buarque, dirigida por Zé Celso, no coro fazia parte Zezé Motta – na sala Galpão do Teatro Ruth Escobar atacado pelo CCC em julho de 1968

Garoto vindo do interior, São Paulo era um mundo que enchia os olhos em 1968, para quem vinha de pequenas cidades. Cheguei em São Paulo nos fins de 1963, comecei a trabalhar no início de 1964, nas Lojas de Departamentos, logo estouraria a Revolução Militar em abril de 64.

Órfão de pais, vivia a grande luta de trabalhar e estudar à noite. Aos poucos fui me acostumando à cidade grande, tomando contato com a realidade. O que eu imaginava que seria uma abertura, viver numa cidade grande, tornava-se com a Ditadura Militar um cerco, uma corda que ia asfixiando cada vez mais, tudo e todos.

Em 1968 sofri uma crise na coluna cervical que me deu um afastamento do serviço. Foi quando conheci o Grupo Teatral Casarão misto amador com profissional, um centro cultural no Avenida Brigadeiro próximo à Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Com tempo ocioso, entre as sessões de terapias. Andava e vagava pelo Centro da cidade, o Teatro Casarão foi uma abertura que mudou minha vida.

Dentre o Grupo, um amigo foi o tutor desses novos caminhos. Waldemar Sillas um dos fundadores tornou-se companheiro e mentor. Na época além de ator, já era autor e diretor. Eu tinha uns vinte e poucos, erámos quase da mesma idade. Ele morava em Santana, lá nos lados onde minha irmã morava. Trocávamos confidências, sonhos, projetos, nossas namoradas eram amigas. Domingo sempre havia uma comida da sua mãe nos esperando. Erámos quase uma família...

Um dia creio que em agosto de 1968, Waldemar falou: - “Uns amigos estão precisando de ajuda, você pode ir comigo? ”. Minha resposta foi de imediato: - “Vamos! ”. Os atores da peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, com direção de Zé Celso Martinez Corrêa, no teatro Ruth Escobar, em São Paulo, haviam sido agredidos durante a peça.

Sala Galpão

Mais ou menos vinte homens encapuçados do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) haviam invadido e destruído a Sala Galpão do Teatro Ruth Escobar no final da peça.

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Camarim da Sala Galpão do Teatro Ruth Escobar (foto publicada na Folha de S.Paulo no dia 19 de julho de 1968)

Em 18 de julho de 1968, após mais uma noite de apresentação em São Paulo na sala O Galpão, cerca de vinte homens encapuzados, armados de cassetetes e soco inglês sob as luvas, do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), se dividiram para quebrar o cenário e partes do espaço físico, e invadir os camarins, espancando os atores e produção, rasgando roupas dos figurinos. Transformou-se numa resistência cultural contra a Ditadura.

Coro de Roda Viva Zezé 

Coro do Musical Roda Viva onde fazia parte Zezé Motta

  O musical Roda Viva causava polêmicas contava as péssimas condições sociais, políticas e financeiras da sociedade da época e do início das redes de televisão. Os personagens que representavam o povo, não possuíam quaisquer direitos de liberdade e são frágeis diante da influência da televisão.

 

Comprovada a evidente intenção de criticar a situação política, social e econômica da época, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) organizou uma agressão contra os artistas, sob alegação de que precisavam ser repreendidos pelos palavrões e por expor, ao público, os problemas do País.

A “proibição” de nos meios de comunicação vinham do “Ato Institucional número 5, que concedia poderes ao Presidente da República para intervir e cessar qualquer atividade ou liberdade democrática.

Hugo Waldemar 

Foto de fotógrafo das velhas máquinas lambe-lambe

Na época Waldemar Sillas e eu, barbudos e com cara de poucos amigos ficamos “escalados” na sala restaurada e como “seguranças” de proteção ao elenco. Uma proteção ficcional e simbólica.

Uma Marília tímida e maravilhosa e os atores vieram no final, agradecer nosso apoio e solidariedade à retomada da peça depois do ataque facista dos integrantes do CCC.

Histórias que no coração quebrado pelas partidas de amigas e amigos, ainda recordo. Épocas da Ditadura Militar, que a violência tentava calar nossos sonhos.

Hugo Ferreira Zambukaki

Fotos: Internet e arquivo pessoal