sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Salve o Almirante Negro! - Homenagem que a Ditadura Militar não apagou

 

HOJE na HISTÓRIA – 6 de Dezembro de 1969
JOÃO Cândido a Revolta da Chibata e o Encouraçado POTEMKIN.
►MORRIA um dos líderes da Revolta da Chibata, JOÃO CÂNDIDO Felisberto, também chamado de Almirante Negro, aos 89 anos, em um dia como este, no Rio de Janeiro. Ele liderou a revolta da Chibata, que denunciou o uso sistemático da violência dentro da Marinha do Brasil contra marinheiros de baixa patente.

NOS CAMINHOS do mar, João Cândido conheceu muitos lugares, onde pode aprender sobre seu ofício e sobre a luta dos trabalhadores.
►NUMA das viagens que fez à Grã-Bretanha, em 1908, ficou sabendo da revolta dos marinheiros russos (do Encouraçado POTEMKIN), acontecida em 1905, na qual reivindicavam melhor alimentação e condições de trabalho.

Gravação histórica ao vivo, feita durante a sessão musical, com voz e violão (Happy Hour), que aconteceu no Restaurante Dom Maior, no centro do Rio de Janeiro, dia 20 de agosto de 2010.
Apresento aqui, pela primeira vez, uma das "versões" da letra original, sem a censura que ela sofreu em 1974, durante a ditadura militar no Brasil.
Como foi a primeira vez que eu a cantei, e em clima de improviso, pois resolvi fazer isso momentos antes, algumas vezes eu mencionei as palavras da letra censurada, que a Elis e o João Bosco gravaram, em plena ditadura militar, e que ainda estão fortes no meu subconsciente, apesar do Aldir ter brincado com essas trocas e colocado palavras que dão um sentido esquisito pra letra ! :)
Depois de gravar esse vídeo, descobri que existem várias "versões" desta letra original, na internet ...
Por sorte, encontrei um vídeo da Elis cantando - no Chile - a versão original.
http://www.youtube.com/watch?v=g7N1zt...
Pretendo, brevemente, gravar outro vídeo, com essa versão, que - cantada pela Elis, lá no Chile, na própria época de lançamento da música e em plena ditadura militar ( ... a brasileira ...) eu considero definitiva e que transcrevo abaixo:
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O Mestre-Sala dos Mares (título liberado)
Compositores: Aldir Blanc e João Bosco
Ano: 1973
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"ALMIRANTE NEGRO" (Título original)
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(Letra original)
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como Almirante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam das costas
dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava - não!
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o Almirante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...

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Outras ótimas informações sobre João Cândido (o Almirante Negro), a Revolta da Chibata, a experiência de Aldir Blanc e João Bosco frente à censura desta letra, durante a ditadura militar brasileira.
http://www.dhnet.org.br/memoria/texto...
http://www.artilhariacultural.com/?p=...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_...
http://recantodasletras.uol.com.br/co...

domingo, 20 de novembro de 2016

Negros, pretos e oportunistas

 

Zumbi

Para nós importa sermos negros

por serem duas as opressões

explorados e negros

no Brasil céu de anil

negro que se diz negro

assume o revolto

quilombo de sua vida

Hugo Ferreira Zambukaki

sábado, 12 de novembro de 2016

Expo Missa Afro da Igreja do Largo do Rosário (Penha)

Abertura Expo Missa Afro da Igreja do Largo do Rosário (Penha)

De 11 de novembro à 24 de novembro – Passagem Literária da Consolação

Grupo Poética em Construção

 

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Difícil mexer com lembranças, pela primeira vez fui até a Passagem Subterrânea na Consolação com Paulista a “Passagem Literária da Consolação”. Para mim idoso septuagenário, o mundo entre o Cine Bela Vista e o Bar Riviera.

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Recordações de um período de 21 anos da Ditadura e o combate para a redemocratização, perante o fantasma do atual retrocesso em São Paulo.

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Vivemos tempos difíceis, o Movimento (s) Negro (s) e até o 20 de novembro são contestados por setores reacionários usando oportunistas. Renovar e renascer é preciso, buscar soluções e ideias. Nada melhor que experiências de Comunidades, organizando-se e vencendo dificuldades. E mais significativo usando velhas formas de organização popular.

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A Comunidade do Largo do Rosário na Penha de França em São Paulo, organizou-se quando em 2012 houve a ameaça da demolição da Igreja. Construída pela Irmandade da Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Penha de França, fruto de esforços de libertos e escravizados, organizados nas Irmandades do Rosário, é a única original em São Paulo, conta a jornalista Carolina Conti do “Grupo Poética em Construção”.

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“Por oito meses, fotógrafos do grupo Poética em Construção registraram as inúmeras expressões de fé manifestadas durante o Cerimonial e essas imagens farão parte da exposição "Missa Afro - Registros de uma história de memória, resistência e devoção em Penha de França” diz o texto da exposição.

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Uma luta de devoção, na missa afro de todo primeiro domingo do mês desde 06 de outubro de 2013, resistência que necessita de apoio.

No centro da cidade, a atual Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Paissandu, é uma construção nova. A antiga (construída por volta de 1721) no Largo do Rosário foi desapropriada em 1903. “Por esses acasos do destino, os remanescentes do cemitério, que era de propriedade da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, foram parar às mãos do... irmão do prefeito, o sr. Martinico Prado. Ali se construiu o Palacete Martinico Prado, que já abrigou o Citybank e, hoje, acolhe a Bolsa Mercantil e de Futuros.” (fonte Wikipédia)

O mesmo risco de demolição corre a Igreja do Rosário da Penha, e as 120 fotos da exposição, selecionadas entre mais de 500 fotos de vários fotógrafos mostram o acompanhamento da organização, resistência da Comunidade por 8 meses na visão do Grupo Poética em Construção.

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Fui convidado por Carolina em abril para conhecer a Igreja e a Comunidade na Penha, desses convites em que os anjos sussurram, e nos fazem retomar histórias familiares mais antigas que a nossa própria vida.

Tenente Ferreira Realengo

Meu pai José Ferreira da Silva, mineiro do norte de Minas, soldado no Exército participou da Revolução de 1924 e ficaram sitiados na Penha. Anos mais tarde seguindo carreira formou-se oficial na Escola Militar do Realengo no Rio por onde também se formou Luís Carlos Prestes. Meu pai Tenente Ferreira, participou do Movimento Tenentista e levantou-se contra a Ditadura Vargas em 1932, onde teve sua perna esquerda metralhada. Minha família morava na Penha, nasci em 1946 e por motivos vários minha família teve de mudar-se.

Voltar à Penha de França, e juntar-se à uma luta de resistência, é manter uma tradição de luta e devoção.

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Uma exposição de peso e vitalidade para se conferir:

“Viva São Benedito! Viva Nossa Senhora do Rosário! Viva a Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Penha de França!
Axé!
O grupo Poética em Construção é formado por
Carolina Conti, Daniela Lucheta, Monica Borges, Marcelo Patu, Sebá Neto, Tatiana Vasconcellos, Sergio Cruz e Ricardo Biserra.
Curadoria de Pedro Clash”

Abertura Expo Missa Afro da Igreja do Largo do Rosário (Penha) De 11 de novembro à 24 de novembro – Passagem Literária da Consolação Grupo Poética em Construção

https://www.facebook.com/events/1085300798254615/

Fotos Jô Muniz & Hugo Zambukaki

Texto Hugo Ferreira Zambukaki

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

RAQUEL SOLANO TRINDADE 80 anos

RAQUEL SOLANO TRINDADE 10 de agosto

Obrigado pelos 80 anos de Arte

RAQUEL SOLANO TRINDADE (1936)

Homenagem aos 80 anos de uma longa participação política e artística de Raquel Trindade, ativista da cultura negra, artista plástica, poeta, dançarina e coreógrafa. Uma cidadã brasileira.

Raquel Homenagem Dilma

Da esquerda para a direita: Dilma Rousseff, José Sarney, Marta Suplicy e Raquel Trindade. A pesquisadora, folclorista e artista plástica, Raquel Trindade, foi homenageada pela Ordem do Mérito Cultural no Palácio do Planalto, em Brasília(5/11/2012).

Raquel Trindade Souza, a Kambinda, filha mais velha do grande poeta negro comunista Solano Trindade e Maria Margarida Trindade, coreógrafa e terapeuta ocupacional nasceu no Recife( PE) grande conhecedora da história e cultura afro-brasileira, é considerada uma das maiores memórias vivas no Brasil.

Raquel Solano

Música, cultura e história correm por suas veias desde a infância. A avó materna Damázia Maria do Nascimento, cozinheira, dançava nos maracatus do Recife e Emerenciana, avó paterna, fazia lapinha, a casinha do presépio. Abílio Pompilho da Trindade, seu avô, sapateiro, era velho do pastoril e com ele Raquel ouviu muitas histórias que povoavam sua imaginação.

Raquel com 2 anos no colo da mãe em Recife

Raquel aos 2 anos com sua mãe Maria Margarida

Seu pai, que em 1936 fundara o Centro Cultural Afro-Brasileiro e a Frente Negra Pernambucana, transfere-se para o Rio de Janeiro na década de 1940 onde, de cristão evangélico passa a militante comunista, filiando-se ao partido de Luiz Carlos Prestes. Em Caxias (RJ), município onde se instalou, montou a célula Tiradentes reunindo camponeses e operários.

Sua mãe rumou com as filhas Raquel e Godiva para o Rio de Janeiro. As meninas ficaram no navio e Maria Margarida saiu para procurar o marido. Sua única referência era o Vermelhinho, um bar que reunia comunistas e onde Solano, seu pai, aparecia para conversar e vender quadros e poemas.
A família foi então morar no bairro da Gamboa, em um barraco que tinha o aluguel cotizado pelos amigos do pai. Com ele, a partir dos oito anos passou a freqüentar a Biblioteca Nacional, exposições de arte, Pinacoteca e Teatro Municipal. Conheceu também o balé-afro da Mercedes Batista e a orquestra afro-brasileira do Abigail Moura.
Seus pais ensinavam dança no Teatro Folclórico do Aroldo Costa e por intermédio deles conviveu com intelectuais da época, dentre eles, o artista plástico Aldemir Martins, a pintora Djanira, a atriz Ruth de Souza e Abdias Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro.
Com a mudança para o município de Duque de Caxias (RJ), Solano promoveu várias festas com Maracatu, Coco e Lundu danças ensinadas pela mãe. Também com os pais aprendeu que devia ter orgulho por ser negra e transitou entre o universo evangélico da mãe e as reuniões comunistas, coordenadas pelo pai.

80 anos

Envolvimento político que o levou, inclusive, por duas vezes à prisão, no período do Estado Novo. Anos mais tarde Raquel lembraria que, na estante de sua casa conviviam, lado a lado, na mesma prateleira, a bíblia da mãe e um exemplar de O Capital, de Marx, pertencente a seu pai.
Em 1950 seus pais e o sociólogo Édison Carneiro fundaram em Caxias o Teatro Popular Brasileiro (TPB) que, formado pela classe popular- donas de casa, operários (as), estudantes-, trabalhavam as origens de danças como maracatu, bumba-meu-boi e promovia, ainda, cursos de interpretação e dicção. As apresentações atraiam intelectuais, diplomatas e artistas.

Raquel Pinturas2

Raquel que se casou oito vezes tem três filhos - o compositor Vitor da Trindade, a artista culinária Regina Célia e a escritora dançarina Dada- e netos. Lembra que um dos casamentos aconteceu após uma viagem do TPB a Europa. Ela perdeu a virgindade no navio, com um dos músicos da equipe do pai, que ao descobrir ficou uma fera. O pessoal então, com a ajuda do cônsul, organizou o casamento em Varsóvia, na Polônia. No retorno a Caxias era uma senhora casada e assim ficou por três anos.

Na ocasião dessa viagem Raquel cursava o segundo ano do Clássico em um colégio particular no bairro de Laranjeiras e no qual só pode matricular-se, com a ajuda do professor Mira, que pagava as mensalidades. Mira era negro e Raquel lembraria, anos mais tarde, que isso não era uma coisa tão comum naqueles tempos: um professor negro de história.

Raquel aprendeu com os pais que o estudo é um dos mais preciosos bens que alguém pode deixar aos filhos. Gostava de estudar e lamenta que atualmente as crianças saiam das escolas sem que dominem a leitura, a escrita e o cálculo. Aos 12 anos ganhou o Prêmio Euclides da Cunha de literatura juvenil, competição nacional, com uma redação sobre a violência presente nos gibis da época

 

Guarda saudades das professoras. Após a conclusão do curso primário cursou o ginásio no colégio Duque de Caxias e vivia com as mensalidades atrasadas. Estabelecimento particular- ela e sua colega Dagmar eram as únicas meninas negras do colégio. Na adolescência Kafka, Dostoievski e Graciliano Ramos, dentre outros, emprestados pela biblioteca do colégio, foram alguns de seus companheiros. Também a revista A Classe Operária a tirava do serviço de casa o que provocava reclamações da mãe. Raquel passava horas lendo.
Raquel Trindade é Fundadora do TPST (Teatro Popular Solano Trindade) e da Nação Kambinda de Maracatu, instalados na cidade paulista de Embu das Artes, para onde a família se mudou na década de 1960. Fundado em 1975 e administrado pela família o TPST faz parte da luta, para que a memória de Solano, o Poeta do Povo, falecido em 1974, permaneça viva.

Festival Afreaka

Festival Internacional AFREAKA em 2015 Biblioteca Mário de Andrade SP


Na ocasião havia proposto um curso de extensão, no sentido de ampliar a reduzida presença negra na universidade. O sucesso da proposta, 170 alunos(as) inscritos, resultou na ideia de criar um grupo batizado de Urucungos, Puítas e Quinjengues, instrumentos bantos que foram trazidos pelos escravos para São Paulo. Composto por negros da comunidade, funcionários da Unicamp, alunos e professores, a maior parte das danças que o grupo apresenta foram pesquisadas e criadas por Raquel.

Valiosa fonte de conhecimento e vivência da cultura afro-brasileira, Raquel Trindade é uma de suas mais importantes Griot (guardiã do conhecimento). Sua atuação e testemunho têm sido de grande contribuição para o enfrentamento do preconceito contra o(a) negro(a), a mulher e o nordestino(a) na sociedade brasileira.

Fontes: Mulher 500 anos, atrás dos panos

Wikipédia

Imagens Internet

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Nos xingavam de racistas, e ainda matam negros...

 
Hoje dia 7 de julho de 2016, vejo o vídeo da morte do camelô Alton Sterling pelos policiais de “Baton Rouge” – Louisiana EUA. Choca e as imagens são fortes gravadas por sua namorada em um celular. Um homem dominado por dois policiais, recebe três tiros. Logo depois vejo outro vídeo com mais uma morte de um negro Philando Castile no estado de Minnesota, depois de uma abordagem por policiais. Duas mortes em dias seguidos.
 

Baton Rouge – Louisiana  Policial atira em Alton Sterling

 

 

 

Morte de Philando Castile em Minnesota
  Por que cito mortes de negros nos Estados Unidos?
Poderia falar da morte do Carlos Augusto Muniz foi morto num fim da tarde (19/09/2014) durante uma operação da PM na Rua Doze de Outubro, numa situação parecida dos Estados Unidos e também filmado por celular.


Vídeo mostra momento em que PM mata camelô Carlos Augusto Muniz  com tiro na cabeça em SP

Nesse mesmo dia (7 de julho) em 1978 em São Paulo, nas escadarias do Teatro Municipal o então “Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial”, erguia suas bandeiras contra a morte do jovem Robson Silveira da Luz, morto por policiais militares em uma delegacia e contra o impedimento da entrada de atletas negros nas piscinas do Clube Tietê.
Rua Mnu
Na época vigora na África do Sul o Apartheid, regime racista
Plena Ditadura Militar éramos vigiados e infiltrados como os registros da repressão relatam. Como a ideologia do Regime Militar era de negar o racismo, quem levantava bandeiras contra o racismo (inexistente segundo as normas oficiais) era xingado de racista.
O Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, depois transformado em Movimento Negro Unificado MNU era formado por dezenas de entidades em São Paulo. Logo seguido por outros estados.
Em São Paulo uns apoiavam a Ditadura Militar outros eram contra. Mas esse momento foi de união entre todos. Um fato marcante dessa multiplicidade de ideologias, foi em 1982 os vários representantes negros eleitos pelo Partido de Oposição (MDB – Movimento Democrático Brasileiro) passaram a apoiar o PDS (antiga ARENA) liderado em São Paulo por Paulo Maluf.
No PMDB antigo MBD (nessa época uma frente contra a Ditadura) estavam políticos negros como prefeito cassado de Santos, Esmeraldo Tarquínio Filho, o vereador Benedito Cintra (o PC do B estava ainda na ilegalidade) e entre muitos companheiros Oscarlino Marçal dirigente sindical de esquerda e ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade do Largo São Francisco. Oscarlino quando estudante derrotara no Largo São Francisco uma chapa de direita liderada por Michel Temer.
Nossa ideia era eleger deputados, vereadores, obter posições no Governo Democrático de São Paulo, ocupando secretárias. Numa reunião com o então candidato Franco Montoro ficou combinado que Esmeraldo Tarquínio ocuparia a pasta da Secretaria da Justiça e Oscarlino Marçal e Hélio Santos secretarias no governo municipal de São Paulo.
As eleições seriam no dia 15 de novembro, Esmeraldo Tarquínio vítima de um acidente vascular morreu 5 dias da eleição (12 de novembro de 1982), nosso sonho começava também a morrer.
Vendo as mortes no Estados Unidos, onde o presidente Obama é negro e não resolve a questão do racismo e mortes de negros. Questiono a nossa falta de representatividade no Brasil e uma ação efetiva da sociedade contra o racismo e discriminação.
Uma constatação, um questionamento.












segunda-feira, 27 de junho de 2016

São Paulo separada do Brasil, quem financia?

 

Um movimento separatista nascido em 2014 depois das eleições, onde o deputado Coronel Telhada reclamava da eleição: ¨Deputado estadual eleito em São Paulo, Coronel Telhada (PSDB) usou as redes sociais para manifestar sua indignação com a reeleição de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, que venceu o tucano Aécio Neves no segundo turno da eleição.”

Sampa Adeus

De início as considerações do deputado logo após as eleições (27-10- 2014) eram:

“Coronel Telhada fala em separar Sul e Sudeste do resto do país”

O coronel Telhada (PSDB), deputado estadual eleito em São Paulo, culpou nas redes sociais os eleitores que votaram branco, nulo ou que não votaram neste domingo (26) pela vitória de Dilma Rousseff.

A declaração foi mais amena que a publicada na noite de domingo, também em sua página no Facebook, quando Telhada disse que o Sul e o Sudeste deveriam iniciar "o processo de independência de um país que prefere esmola do que o trabalho, preferem a desordem ao invés da ordem, preferem o voto de cabresto do que a liberdade". Folha de São Paulo

Para o portal do site “Terra” era mais radical em seu pensamento separatista São Paulo deveria se separar de todo Brasil nem o sul e sudeste escapava: “O deputado estadual eleito disse estar “triste, estou muito triste” e que acha “que chegou a hora de São Paulo se separar do resto desse país”. “Que o Brasil engula esse sapo atravessado”, afirmou.

Tirando indignações do calor de quem perde eleições (2014), vemos surgir agora em 2016 um movimento chamado São Paulo Livre org., que aproveitando a saída da Inglaterra da Comunidade Europeia com o “Brexit” lançam o “SampAdeus”.

Casamento

Material do SPL com acabamento profissional

"A ação é encampada por uma organização não-governamental do Estado chamada São Paulo Livre surgido em 2014, que batizou o movimento de "SampAdeus", algo como São Paulo dizer adeus ao Brasil." Site bem organização na sua estruturação, e surge a pergunta quem paga os profissionais?

Muita gente séria, encara como brincadeira e acrescenta: “Apoio com entusiasmo e já vou fazer campanha pela Internet desde de que garantam que levam mesmo Temer, FHC, Serra, Alckmin, Tiririca, Kassab, Jair Bolsonaro & família, Pastor Marco Feliciano, João Dória, Paulo Maluf, Janaína, Paschoal, VEJA, Paulinho da Força, Alexandre de Moraes, Aloysio Nunes, FIESP & Skaf, MBL, Vem pra Rua, ITAU, Revoltados On Line, Folha, Estadão, Celso Russomano, Martha Suplicy, William Waack, William Bonner, Ratinho, família Setubal, Guilherme Leal, Guilherme Afif Domingos, Abilio Diniz, Eliana, Danilo Gentilli, Lobão, Adriane Galisteu, Silvio Santos &SBT, TV e rádio Band, deputado Fernando Máfia da Merenda Capez que levaria junto todo o PSDB paulista junto com o PP, PSD e Solidariedade. Se confirmarem, estamos juntos. ”

Realmente concordo com a brincadeira do texto, mas o que está atrás de tudo isso?

Quem financia esse movimento São Paulo Livre, que irá fazer “No dia 2 de Outubro, o SPL vai organizar um grande Plebiscito Consultivo ('Sampadeus')”.

Entendendo melhor é uma: “CONSULTA SEM VALOR LEGAL, E NÃO OBRIGATÓRIA” (Flávio Rebello – Presidente Nacional do São Paulo Livre) que montaria barracas nas calçadas. Claro que para confundir melhor no dia das eleições municipais, perto das votação das urnas municipais, e duas perguntas com resposta Sim ou Não:

1- “Você está insatisfeito com a atual representação política São Paulo na Federação?”

2- “Você gostaria que São Paulo se tornasse um país independente? “

(Informações dadas em entrevista pelo presidente nacional do SPL)

Beijo Reino Unido

Muita gente na Inglaterra votou a favor da saída do Reino Unido da União Europeia por “brincadeira para mostrar a insatisfação” e já se arrependeram com o resultado, existem mais de um milhão e setecentas assinaturas pedindo novo referendo, informa a Veja. O Reino Unido que é também formado pela Escócia (onde a permanência ganhou com 62%) está pedindo novo referendo pedindo a independência do Reino Unido.

Cunha tá

Quando os movimentos de paneleiros que agitavam a Paulista silenciam, vendo a ameaça de prisão de seu ídolo, muito estranho o surgimento de um novo movimento para arregimentar e mobilizar. Fica a pergunta quem financia e a quem serve esses movimentos?

E se São Paulo elegesse uma prefeita nordestina?  Usando a ironia: O tal país independente excluiria a cidade São Paulo?

Hugo Ferreira Zambukaki

Fontes

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1539043-coronel-telhada-critica-votos-nulos-e-defende-autonomia-dos-estados.shtml

http://noticias.terra.com.br/eleicoes/indignado-coronel-telhada-fala-em-separar-sp-do-pais,5a94b9f2ffe49410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html

http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/pedido-de-novo-referendo-sobre-saida-do-reino-unido-da-ue-supera-17-milhao-de-assinaturas

http://economico.sapo.pt/noticias/brexit-pode-levar-a-novo-referendo-pela-independencia-na-escocia-e-a-crise-na-europa_252392.html

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Finalizado 17 anos depois: “Cabra marcado para morrer”

Filme interrompido e finalizado 17 anos depois:“Cabra marcado para morrer”

Em fevereiro de 1964 durante o governo do presidente João Goulart, no município de Sapé na Paraíba, iniciam-se as filmagens sobre o assassinato em 1962 de João Pedro Teixeira, líder camponês participante das “Ligas Camponesas” de Galileia e de Sapé. No entanto com o golpe de 1 de abril, forças militares invadem o engenho da Galileia local das filmagens e prendem parte da equipe sob a alegação de comunismo.

Cartaz Cabra

Dezessetes anos depois, o diretor Jorge Coutinho volta à região, reencontrando Elizabeth Altino Teixeira (viúva de João Pedro) que desde 1964 vivera escondida e separada dos filhos. Recolhendo depoimento de outros camponeses que haviam atuado no filme interrompido pela repressão policial e militar.

Jorge Coutinho cineasta

cineasta Jorge Coutinho

De uma forma semidocumental apresenta a história do líder João Pedro e das Ligas Camponesas de Galileia e de Sapé na Paraíba.

As Ligas Camponesas vinham sendo criadas desde os anos 50, procurando conscientizar e mobilizar o trabalhador rural contra o latifúndio e na defesa da reforma agrária. Sindicatos rurais e associações cresceram durante o governo de João Goulart (1961 à 1964) ganhando força política reivindicando condições de vida dignas.

As Ligas Camponesas ponto central de conflitos com latifundiários é atribuída a fundação à Francisco Julião Arruda de Paula (1915 – 1999). Nasceu no Engenho Boa Esperança, no agreste pernambucano. Advogado formado em1939, em Recife, foi líder em 1955 das Ligas Camponesas (organizações cujo objetivo era lutar pela distribuição de terras e os direitos para os camponeses), no Engenho Galileia.

Francisco Julião    Francisco Julião campo

advogado Francisco Julião

1a Liga Camponesa Vitória de Antão

1a. Liga Camponesa 1955 sede no Engenho da Galileia

Em seu próprio relato, de 1940 a 1955, foi na verdade advogado dos camponeses, e mostra como ocorreu a organização popular: "Não fundei a Liga - ela foi fundada por um grupo de camponeses que a levou a mim para que desse ajuda. A primeira Liga foi a da Galileia, fundada a 1 de janeiro de 1955 e que se chamava Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco. Foi um grupo de camponeses com uma certa experiência política, que já tinha militado em partidos, de uma certa cabeça, que fundou o negócio, mas faltava um advogado e eu era conhecido na região. Foi uma comissão à minha casa, me apresentou os estatutos e disse: 'existe uma associação e queríamos que você aceitasse ser o nosso advogado'. Aceitei imediatamente. Por isso o negócio veio bater na minha mão. Coincidiu que eu acabara de ser eleito deputado estadual pelo Partido Socialista e na tribuna política me tornei importante como defensor dos camponeses."

Vídeo

 

TÍTULO DO FILME: CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1984) DIREÇÃO: Eduardo Coutinho
ELENCO: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco). Narração de Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho. 120 min., Globo Vídeo.

fontes: http://blogdocrato.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Juli%C3%A3o

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabra_Marcado_para_Morrer

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Um filme escondido da Ditadura por 25 anos

Durante a Ditadura Militar (1964 à 1985) houve sérias restrições onde tudo era proibido e censurado. A violência e agressão eram destinada aos que discordavam do regime totalitário, era a ideologia do inimigo interno, baseada na “Guerra Fria” onde o Estados Unidos em sua disputa com a União Soviética combatia e exportava sua ideologia aos países da América Latina.

Desde estimular, financiar políticos e militares para a derrubada do governo de João Goulart, até o envio de uma frota (Operação Brother Sam) com marines norte-americanos para apoio do golpe contra o governo constituído. Como não houve reação contra o golpe a frota norte-americana voltou ao Caribe.

Operação-Brother-Sam-Destroyers-Porta-Avioes

A operação consistiu no deslocamento da frota da Marinha norte-americana estacionada na região do Caribe para o litoral brasileiro. O apoio logístico em favor dos golpistas fora solicitado pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, com quem as forças insurgentes já mantinham contatos visando o suporte norte-americano à derrubada do governo Jango.

Surgiram das manifestações populares nos finais dos anos 60 grupos de resistência, alguns através da cultura para “conscientização das massas”, outros armados tentando com ações de guerrilha diminuir o poder dos militares golpistas. Líderes estudantes, sindicais, e políticos de esquerda foram torturados, mortos, tiveram que fugir do país e muitos os seus corpos estão desaparecidos até hoje.

Brasil Ame-o

Era a época das bandeiras verde-amarelas dos adesivos nos carros “Brasil ame-o, ou deixe-o”

Filmes feitos na época mostram bem como eram a forma de se opor ao regime.

Queremos citar um filme feito em 1968 e 69 "Manhã Cinzenta" por Olney Alberto São Paulo A proposta inicial de Manhã Cinzenta era que viesse a compor um projeto de um filme com três histórias. No entanto, com a apreensão de Manhã Cinzenta e a censura, o projeto foi abandonado por Olney São Paulo, ficando apenas um filme de caráter independente que, embora ficasse inédito no Brasil, ganhou muita repercussão em outros países. Exemplo desse reconhecimento e da valorização foi a premiação recebida na Alemanha, bem como as participações em festivais de Cannes, em 1970; Cracóvia, na Polônia; Viña del Mar, no Chile; Pesaro, na Itália, e em Londres.

Olney-Sao-Paulo2

Olney São Paulo

Na manhã do dia 8 de outubro de 1969, ocorre o primeiro sequestro de um avião brasileiro, por membros da organização MR-8. O avião é desviado de Cuba. Um dos sequestradores é membro da diretoria da Federação Carioca de Cineclubistas. “Manhã Cinzenta” é exibido a bordo. Olney é vinculado pelas autoridades brasileiras ao sequestro. É detido e levado para local ignorado, ficando incomunicável por doze dias. Liberado, em 5 de dezembro é internado, com suspeita de pneumonia dupla. Em 25 de dezembro, muito debilitado psíquica e fisicamente, passa alguns dias com a família e é internado novamente.

Os negativos e cópias de "Manhã Cinzenta" são confiscados. Mas uma das cópias do filme é salva por Cosme Alves Neto, então diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e ficou por vinte cinco anos escondida na Cinemateca do MAM.

Olney São Paulo morreu cedo,  com a saúde debilitada vítima de tortura em 1978, aos 41 anos.

Assista Manhã Cinzenta  Ano: 1969 - Duração: 00:22:00
Diretor: Olney Alberto São Paulo

Um golpe de estado num país imaginário da América Latina. O poder. A repressão. O filme que levou seu realizador aos porões da ditadura.

Fontes: Olney São Paulo http://www.historiadocinemabrasileiro.com.br/olney-sao-paulo/

Olney São Paulo https://pt.wikipedia.org/wiki/Olney_S%C3%A3o_Paulo#Pris.C3.A3o_e_censura

Olney São Paulo http://www.cinecachoeira.com.br/2011/06/olney-sao-paulo/

Operação Brother Sam http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/operacao-brother-sam-golpe-de-64-teve-apoio-dos-eua.htm

segunda-feira, 11 de abril de 2016

De volta à Vila Buarque

Sou da geração que gostava de se denominar de “68” em virtude das grandes manifestações mundiais que iniciaram-se na França e incendiaram a juventude e o mundo.

Foto reprodução Wikipedia

Naqueles idos do século passado (bom lembrar que o tempo passou), vivíamos numa área geográfica entre o Bar do Zé na Maria Antônia, a Quitanda e o Bar Redondo em frente ao Teatro de Arena. E nesse entremeio as Faculdades de Economia, Filosofia e Letras e a Sociologia e Política da USP, como oposição o Mackenzie (na época fora o quartel do CCC –Comando de Caça aos Comunistas) na “famosa batalha da Maria Antônia” em São Paulo.
Um forte clima de batalha ideológica existente no Brasil, mostrava o seu enfrentamento no meio estudantil, uma divisão entre Brasis... Hoje as manifestações são na Avenida Paulista, e o mesmo clima de intolerância, volta a existir. Armam-se locais diversos para os prós e contras do Impeachment à ser votado no Planalto. Bandeiras Vermelhas e Verde Amarelo, e nós que nas Diretas usamos o Amarelo como bandeira e o vermelho flutuava tranquilo...
Morava na rua Caio Prado, numa república, a Cidade Universitária na época usada como forma de dissociar os estudantes do centro da cidade que era no hoje chamado centro histórico, ainda erguia e com enorme relutância dos estudantes para ocuparem, um local longe do centro. As únicas faculdades que conseguiram o seu direito de permanecer foram a de Direito do Largo São Francisco e a Faculdade de Sociologia e Política.


Flyer da Casa Elefante


Domingo estive na rua Cesário Mota, 277 na Casa Elefante misto de bar, espaço artístico, apresentações, enfim tudo o que a Vila Buarque representou e representa. Um dos autores da proposta da Casa Elefante, Pedro Clash nos recebeu e deu um lindo flyer com imagem nostálgica de um menino num cais olhando o mar num horizonte longínquo.
Pedro numa apresentação do Fotroca, contava de como essa série foi feita na Inglaterra, outras fotos mostram o menino (seu sobrinho e afilhado) com uma banana mordida na mão. Pedro contava que a situação foi desenvolvendo-se entre o fotógrafo (ele) e o menino numa interação entre parentes e as imagens retratam esse momento mágico.


Foto do ensaio de Pedro Clash (Boy)


Você cria uma obra, e ela é recriada na mente dos que interagem. Em mim bateu forte e doído... Tenho uma filha no exterior que indignada com a situação no país, encontra como solução o aeroporto. Imaginei no sobrinho de Pedro na Inglaterra, o meu futuro neto (a) num cais vazio. Crio e imagino histórias e causos nas fotos do Pedro Clash, inexistentes mas reais na minha mente.
O que aparentemente é uma conversa do “Samba do Crioulo Doido” do Staniswlau Ponte Preta, contado o drama de autor de samba-enredo da época da ditadura, onde com muita informação você confunde e embaralha tudo, é um questionamento de uma época em que vivemos onde pede-se a volta da Ditadura, (Staniswlau poeta, dramaturgo intelectual morreu envenenado, coisas da época da ditadura). Hoje os interesses ocultos são tantos que você sente-se como num verso de Alceu Valença “um boi no meio da multidão”...

Voltar à Vila Buarque, perto da Biblioteca Monteiro Lobato, próximo à Faculdade de Sociologia e Política, entrar na Casa Elefante (misto de sarau, brechó e eventos) mostra como a vida era e é esfuziante na Vila Buarque. O criador cultural não é uma ilha, nem dá para ser um homem de sete instrumentos, há uma necessidade de compartilhamentos, saberes e conhecimentos. Compro livros da do Ricardo Bissera da “Editora Direto do Produtor”, e um cordel fotográfico do Sebá Neto produções independentes e artesanais, feliz da vida saio com uma sacola de plástico vermelha, com alegria e sem medo.

domingo, 10 de abril de 2016

Fotógrafos trabalhando!



Espera e tensão
Com a democratização das fotos digitais, o que era uma arte popularizou-se, câmeras tornaram cada vez menores e com mais recursos as “Power shots”. E cada um tornou um registrador de momentos, interessantes ou não. Com a internet e redes sociais um mostrar de intimidades corriqueiras que banalizam o ato de mostrar a realidade segundo sua visão.

Contato com a comunidade

Não falarei da importância da fotografia e dos vídeos, muitos já se falou. Minha geração pautava-se nas palavras de Glauber Rocha: “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão.






Com os smartphones e com duas câmeras (frontal e traseira) os selfies e fotos posadas surgem a cada momento. A ponto de eu ouvir “pérolas de sábios” donos da verdade: ”fotografar todo mundo fotografa”, e um desmerecimento geral total e irrestrito pelo esforço do fotógrafo de plantão: “Você pensa que só você sabe fotografar?”.


Fotografia é uma arte e ciência cada vez mais avançando em tecnologia e cada vez mais você tem que ter conhecimento, e hoje em dia uma educação continuada, e sempre há quem sabe mais que você e ou tem um conhecimento novo.






Conferindo as fotos Sergio Cruz




Como trocar informações, compartilhar sonhos e projetos? Encontrei o pessoal do Fotroca através do Pedro Clash, na 41a. reunião no Palacete Carmelitas e tenho encontrado uma surpresa atrás da outra, um grupo coeso mostrando seus trabalhos contando suas formas de fazer e assim estimulando novas produções e parcerias. E mais acolhendo e celebrando com quem chega.


Os papos depois da reunião (que sempre são os melhores momentos) levaram-nos a conhecer o trabalho do grupo no registro da Festa do Rosário na Penha de França em São Paulo no dia 03/04/16. Trabalho de mais dez meses com mais de 3000 fotos de vários autores. Tamanho esforço que conversando com Carol Conti uma das idealizadoras do projeto, ao saber que esse trabalho era para um artigo, Jô Muniz exclamou:”Tem registro para um livro excepcional!”
Ricardo Biserra atento aos acontecimentos



Numa época de banalização e exposição de imagens o Fotroca surge como biscoito fino, registrando uma luta de resistência da cultura popular através da comunidade da Igreja do Rosário. A força do: “Viva o Povo Brasileiro” que João Ubaldo no seu romance, transparece nessa continuidade de luta. A esses fotógrafos o meu maior respeito por sua luta e profissionalismo.




Daniela Lucheta um olhar digital







Trabalho de equipe 

domingo, 27 de março de 2016

Saudades de mim mesmo... Um homem azul.

Dentro de mim a essência de ancestrais, características físicas, morais e ideais, que mesmo sem entender ou compreender racionalmente, regem minha vida.
Reproduzidos na minha família, sem explicação ou pedido de licença, elas se manifestam. Físicas e morais, características não ensinadas por normas ou preceitos, mas por exemplos, tornados modelos de tsunamis. No DNA dos filhos a herança da liberdade.
Por parte de mãe e pai, trago o sangue dos “Imazighan” (designação significando: “os homens livres” um dos povos mais antigos da África, povo berbere chamados pejorativamente pelos árabes de “tuaregues” (em árabe twâriq “salteadores” ou em outra versão ligando a palavra tuaregues a “tawariq” significando abandonado por Deus), mostrando o desagrado dos árabes aos Imazighan os homens livres “os homens azuis” vindo do turbante azul e roupa que usam.
A família de minha mãe casava-se muito entre a família, primos com primos, e aparências jeitos e trejeitos se repetem em gerações. Caldeamentos, raças e origens. Conto ou falo à mim mesmo sobre o momento importante de minha vida, ver aos setenta anos o meu primeiro neto. O relacionamento entre meu filho e meu neto repete-se em atos, brincadeiras e amor. O que eu recebi e tentei transmitir.
Sem territórios e relações de comprometimentos com vassalagens. O vento direciona o meu destino, estive não estou, sem pesos nem culpas, viajo leve de bagagens, trazendo experiências e sonhos, criando relações novas construções e projetos.
Na descoberta de novos horizontes e desafios, encontrei no sábado de Aleluia, um fogo que incendeia, alastra-se e amplia.




No Fotroca, no Palacete Carmelitas encontro entre amantes de fotografia e fotógrafos. Compartilhamento de experiências, mundos e tribos.
Na exposição de seus trabalhos fotográficos, os autores dos livros contavam suas experiências de criação. A fotógrafa Carol Conti com seu trabalho “Saudades da Avó” trazia reminiscência de sua infância, fotos da casa, objetos, todo um sentimento de uma ausência presença de um companheirismo. Lembranças que não deixarei para meu neto, histórias que sei que não transmitirei pessoalmente, pois o tempo de partir é presente a cada instante. Necessidade de contar histórias, casos, mostrar origens e caminhos. Saudades de histórias, que tenho de deixar...

Daniela Lucheta com o “Cadê o menino” traz a mágica do momento de quem registra e do registrado, uma relação de cumplicidade que experimentamos a cada momento. Relações criadas ao primeiro clique, aprofundada sem palavras nos gestos. Relação fantástica, surreal. Exposto em dois trabalhos um com fotos, outro com ilustrações da Daniela e poesias haicai da Carol Conti, um trabalho de parceria e entendimentos.

Pedro Clash com “O menino” (Boy) imagens de nostalgias em climas frios de uma Inglaterra sem sol, a relação entre o homem e a criança seu afilhado. Entre a dureza de praias de seixos, ventos gélidos combatidos com pesadas roupas, uma banana tropical na mão da criança. Tocou-me forte, o pensamento de sair do país e as relações novas em outras terras. A casca vazia da banana, e as opções de liberdade da criança. Um filme em fotos, histórias sem fim...

Ricardo Biserra criador do evento, em sua 41ª. edição, traz sua marca de reinvenção constante. Criador de uma proposta alternativa, em constante ebulição apresentou o seu trabalho “Dust” (poeira) o registro da visão da periferia com seu espaço multicultural, uma área usada para jogos de futebol, circos e parques. O “campinho” das nossas memórias presente nos confins dessas megalópoles.

Rodrigo Pivas em “LINHASDACIDADE” mostra o encontro das linhas arquitetônicas de São Paulo, criando em imagens desfocadas, manchas, recortes da cidade transformada e recriada em sua imaginação. Voltei ao tempo em que descobria, edifícios, espaços e imaginava o futuro. 
Tantas histórias, experiências, compartilhamentos, calor humano torna-se pequeno o mero relato de um Imazighan. Saímos eu “amajagh” (homem) e a “tamajaq” (mulher) cumplices e parceiros, corações leves, pensamentos cheio de projetos e promessas. Roupas azuis carrego minhas crenças caminhando para Zambukaki.









Hugo Ferreira Zambukaki

Fotos Jô Muniz