sexta-feira, 14 de julho de 2017

Pisaram nossas Bandeiras, NÃO HOUVE SILÊNCIO!

Irmã Neuza Maria Pereira Lima, deu orgulho ver esse vídeo, ver, rever e ver de novo.

Pisoteamento Bandeira 2
Agressão física era os provocadores esperavam, uma mulher branca idosa agredida por negros! Ela não estava sozinha, na frente ela e um senhor também idoso. Ela arrogante pisa as bandeiras, ele destemido passa atrás do orador Wilson entre
Adriana e José Adão, atrás vem mulheres jovens, e por último um homem maduro, bem forte que ao passar atrás do professor Wilson tem na cara de “alamão” (sou filho de migrantes) sorriso escancarado de escárnio, antes de entrarem na “casa grande” do Teatro Municipal.Pisoteamento Bandeira


Pisaram nossas bandeiras, destemidos senhores aristocratas como devem ter sido seus ancestrais, passaram no meio das nossas lideranças no Ato. Procuravam uma reação física, uma mera agressão, um tapa, um encostar de mão, ou uma jogada e rolada de escada.
Assim haveria justificativas para chamarem a polícia militar, para encerrarem, prenderem os manifestantes.

Pisoteamento Bandeira 3

Nada disso ocorreu. E como me orgulho! E já canta Gil “a felicidade do negro, é uma felicidade guerreira, Zumbi, comandante guerreiro, Ogunhê, ferreiro-mor capitão, Da capitania da minha cabeça”.


Na avenida Paulista ocorreu há pouco o mesmo, numa marcha fascista contra imigrantes, os jovens palestinos do Al Jahiah, foram provocados, depois espancados, e PRESOS pela Polícia Militar.
Pisaram nas bandeiras dos coletivos negros presentes no Ato de Celebração em luta dos 39 anos do MNU. Passaram no meio de nossas lideranças, no alto das escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, não houve um gesto de agressão física. Eu me orgulho, NÃO HOUVE SILÊNCIO!

Pisoteamento Bandeira 4

Pisaram em nossas bandeiras, em frente ao símbolo da aristocracia burguesa paulistana, a “casa grande do Teatro Municipal de São Paulo”. Pisaram nossas bandeiras, os descendentes dos escravocratas barões do café, descendentes dos bandeirantes, que exterminavam e índios e os escravizavam, dos bandeirantes que arrasaram com a Livre República de Palmares. Descendentes dos “paulistas” que invadiram Angola e retomaram para Portugal da mão dos holandeses, para garantir o porto escravista português.


Pisaram, mas não foi na senzala. Em frente à casa grande do Teatro Municipal de São Paulo, estavam guerreiras, guerreiros e crianças seu filhos de orgulho quilombola. Oposto de casa grande é quilombo, não senzala.
Vendo o vídeo, reações de gritos desde o início, pouco à pouco gritos fortes, a reação do orador professor Wilson, usa uma arma: sua voz como fio de navalha, cortando a mente. Protestando, cobrando, comparando o Teatro Municipal ao símbolo da Casa Grande.
Rápidos vários guerreiros correm, sobem e protestam, usando a arma de nossas inteligências e força, nossa voz. Quando os provocadores entram no Teatro Municipal de São Paulo, buscando proteção e apoio, nós seguimos confiantes continuando a cobrança secular. Na frente
Durval Arantes, e outros companheiros: Dá para ouvir claramente: “Cala a boca”; “Racistas”! Os senhores donos dos nossos destinos como nação calam-se.
Subimos e protestamos, liderados pela voz forte do professor Wilson, os guerreiros a frente, professores, escritores usaram a arma da razão: a palavra! Eu com meus 70 anos, na retaguarda, trôpego filmando (péssimas imagens). Velho juruna digital, ficará o registro.
Discordei de irmos conversar com o secretário da cultura, apoiei a invasão para cobrar dos racistas, sem um ato de agressão física. Palavras fortes e determinadas, cobrando nosso espaço na sociedade brasileira.
Como ocorreu há pouco num ato no Al Janiah promovida pelo imigrante congolês
Christo Kamanda, uma mulher provocava, impedindo os africanos na mesa de falarem, e num ato como esse dizia: “No Brasil não existe discriminação e racismo”! Os coletivos negros garantiram a palavra e a continuidade do ato dos africanos. O “Coletivo Catorze de Maio” também presente, protestou e gravou.
Não agredimos racistas, usamos a voz forte da cobrança, mas não abraçamos nossos agressores.
Por menos o catador Ricardo Teixeira Santos, em Pinheiros recebeu um tiro no peito desferido pela Polícia Militar. Como em 1978 na morte de Nilton num ponto de ônibus na Lapa, “um tiro acidental, liquidou a questão”...

Wilson


Fernando Samuel Souza Maria sentindo-se com raiva com Gilda Vendramin Além Paraíba Minas Gerais. Disse há dias sobre essa agressão racista:
“Hoje estão pisando nossas bandeiras, nossa história. Se não reagirmos, amanhã vão pisar os nossos corpos inertes. Está na hora de unificação de nossos coletivos. ”

O vídeo do dia 7 de julho de 2017.

https://www.youtube.com/watch?v=-lw1hPnVcog


Orgulho e honra aos que se foram, resistentes, e jovens dessa luta secular. Hugo Ferreira Zambukaki

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Post Origem do MNU depoimento de militantes

A ORIGEM DO MNU - MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO

Quando os comentários são mais esclarecedores que o post:

“Éramos eu, ..., ..., os .... e muito mais gente”

Reunião no Cecan

Uma postagem no Facebook  baseado no Acervo Agência Globo, provocou a resposta de dois militantes fundadores do Movimento Negro Unificado, por sua importância publicamos as respostas ao post.

Por várias razões e respeito à opinião alheia, omitimos, o autor do depoimento e a autoria do artigo.

Masp Cotas (57)

Milton Barbosa: Em 18 de junho de 1978 representantes de vários grupos se reuniram, em resposta a discriminação racial sofrida por quatro garotos do time infantil de voleibol do Clube de Regatas Tietê e a prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador, pai de família, acusado de roubar frutas numa feira, sendo torturado no 44 Distrito Policial de Guaianases, vindo a falecer em consequência às torturas.

Representantes de atletas e artistas negros, entidades do movimento negro: Centro de Cultura e Arte Negra – CECAN, Grupo Afro-Latino América, Associação Cultural Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas – IBEA e Câmara de Comércio Afro-Brasileiro, representada pelo filho do Deputado Adalberto Camargo, decidiram pela criação de um Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial.

O lançamento público aconteceu numa manifestação no dia 7 de julho, do mesmo ano, nas escadarias do Teatro Municipal da Cidade de São Paulo, reunindo duas mil pessoas, segundo o jornal "Folha de São Paulo", em plena na Ditadura Militar.

Com a criação do Movimento e seu lançamento público, mudamos a forma de enfrentar o racismo e a discriminação racial no país.

Já no dia 7 de julho, participaram entidades do estado do Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa das Culturas Negras – IPCN, Centro de Estudos Brasil África – CEBA, Escola de Samba Quilombos, Renascença Clube, Núcleo Negro Socialista, Olorum Baba Min, Sociedade de Intercâmbio Brasil África – SINBA.

Cinco entidades da Bahia nos enviaram moções de apoio à manifestação.

Prisioneiros da Casa de Detenção do Carandiru, enviaram um documento se integrando ao movimento, denunciando as condições desumanas em que viviam os presos e o racismo do sistema judiciário e do sistema prisional – Centro de Luta Netos de Zumbi.

Participaram do Ato, também, Lélia Gonzales e o professor Abdias do Nascimento.

Masp Cotas (39)

Hugo Ferreira Zambukaki:  Parabéns Milton Barbosa, ótimo depoimento de quem viveu e construiu esse momento em 1978. Muito se fala sobre esse momento histórico, alguns dizendo "eu e os outros", ver uma narrativa concisa como a sua salientando o coletivo acima da individualidade, dá orgulho.

Sou testemunha de seu comportamento exemplar, em pleno "Ato Por que a USP Não Tem Cotas?", no Vão Livre do MASP, no dia 3 de julho de 2017, na hora dos coletivos falarem chamaram o Movimento Negro Unificado Brasil- MNU, presentes o José Adão Oliveira e você. Os dois querendo que o outro tomasse a palavra, o indicado por vocês foi o Adão, exemplos como esses de humildade e reconhecimento dos companheiros, é raro. Logo depois do Adão falar, exigiram sua presença por esse seu comportamento de décadas. O coletivo antes do indivíduo.

Masp Cotas (50)

No seu depoimento você não narra, por essa ideia da coletividade antes dos indivíduos. O MNUCDR (MNU) foi uma frente de várias entidades e coletivos, mas nasceu de intensas, imensas discussões numa entidade o CECAN no Bixiga. Falo e sei que terei depoimentos de inúmeras companheiras e companheiros, que lá estiveram e viveram essas reuniões.

Mesmo antes do CECAN, eu ouvia essa proposta de dois companheiros, o que seria esse movimento. Ontem conversando com o Adão, ele definia todo esse processo como um enorme elefante apalpado por cegos, cada um vê e relata como segura a orelha, a perna...

Milton Barbosa, e Rafael Pinto na minha visão de cego segurando elefante, foram os iniciadores desse processo. Na época discutia-se cultura, atos políticos não. Ouvi dos dois companheiros, essas ideias muito antes inclusive da segunda fase CECAN, tenho na memória, com carinho as reuniões na casa da sua mãe (creio que em 1975), onde eu ouvia de vocês, e sonhávamos na construção de uma ação política.

Masp Cotas (45)

Falo isso como mero coadjuvante, junto de inúmeros companheiros companheiras que se juntaram aos esforços de vocês. Meus respeitos pelo pioneirismo, trabalho e construção.

Outros tantos nomes se uniram, somando experiências, significativa e fundamental importância. Mas honra e orgulho, ao Milton e Rafael, iniciadores intelectuais, estimuladores e construtores do processo de reorganização do movimento negro em plena Ditadura.